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Excursão de pista

publicado 11/03/2016 15h56, última modificação 24/06/2020 13h14

O que é excursão de pista?

Uma excursão de pista está caracterizada quando uma aeronave sai da superfície da pista do aeródromo durante uma operação de pouso ou de decolagem. Esta ocorrência pode ser de duas maneiras: por veer off (saída lateral) ou overrun (final da pista). Esses eventos envolvem vários fatores contribuintes, que vão desde uma aproximação desestabilizada até condições impróprias de aderência da pista.

O EUROCONTROL, órgão de controle do tráfego aéreo na Europa, analisando os dados de excursão de pista nos aeroportos europeus, concluiu que existem elementos importantes para prevenção de excursão de pista que devem ser observados:

  • O risco de uma excursão de pista é aumentado na presença de pista molhada e contaminada, especialmente quando em combinação com rajadas de vento, ventos fortes de través ou de cauda;
  • Embora a estatística mostre que a maioria das excursões de pista ocorre em pista seca, deve-se considerar que o número de pousos e decolagens em pista seca é muito maior que em pista molhada;
  • Práticas como pouso longo ou aplicação ineficaz ou demorada dos freios é muito relevante para o risco de excursão de pista.


Além disso, a oportunidade primária para prevenir uma excursão de pista está na decisão da tripulação da aeronave de fazer:

  • “Go-around” em caso de problemas durante a aproximação; 
  • Continuar a decolagem, quando na velocidade V1 ou próximo a ela, em caso de problemas durante a corrida para decolagem.


 

Excursão de Pista no Brasil

O mais grave acidente ocorrido no Brasil, com 199 fatalidades, caracterizou-se como uma excursão de pista. Em julho de 2007, a aeronave PR-MBK saiu da pista do Aeroporto de Congonhas, durante o pouso e colidiu com um edifício, incendiando e matando todos os ocupantes, além de pessoal em terra.

Após o grave acidente, muitas ações de prevenção de excursão de pista foram executadas, e o tema foi destaque durante a 58ª Sessão Plenária do Comitê Nacional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, em 2012. Como resultado, foi criada a Comissão Runway Excursion para tratar do assunto.

Como primeira medida, a comissão incumbiu ao CENIPA - Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, a elaboração de relatório estatístico sobre excursão de pista no Brasil. O CENIPA realizou então um levantamento e analisou essas ocorrências aeronáuticas – divididas entre acidente, incidente grave ou incidente – no período de dez anos, entre 2004 e 2013, na aviação civil brasileira.

O aprofundado e consistente levantamento realizado pelo CENIPA foi publicado no relatório Saída de Pista na Aviação Civil Brasileira - Estatísticas 2004 a 2013, cujo link de acesso consta ao final desta página. A figura 1 mostra o número total de ocorrências de excursão de pista no Brasil, entre 2004 e 2013, revelado pelo relatório.

Figura 1 – Total de Excursões de Pista no Brasil – 2004/2013

 

Fonte: CENIPA. Relatório ‘Saída de Pista na Aviação Civil Brasileira – estatísticas 2004 a 2013’

Observa-se, pelo gráfico, que essas ocorrências permaneceram estáveis entre 2005 e 2009, mas experimentou crescimento expressivo de 2010 para 2011, ano em que houve o recorde de ocorrências: 50 excursões de pista. A partir de 2011 os eventos recuaram, chegando, em 2013, a patamares semelhantes ao que havia sido registrado em 2010. A média de ocorrências anuais, mostrada pela linha marrom no gráfico, ficou em 27,5. Isso pode ser traduzido como a ocorrência, em média, de mais de duas excursões de pista por mês, durante o período estudado.

Quando desagregados por tipo de motor utilizado pela aeronave que provocou a ocorrência, os números mostram a predominância de motores convencionais, com 76% dos casos. Isso revela que as ocorrências se concentraram na aviação geral de pequeno porte.

Observando os dados relativos às aeronaves impulsionadas por motores a jato ou turboélice, mais utilizadas na aviação regular de transporte de passageiros, tem-se a seguinte estatística:

Figura 2 – Excursões de Pista. Aeronaves a jato e turboélice – 2004/2013

 

Fonte: CENIPA. Relatório ‘Saída de Pista na Aviação Civil Brasileira – estatísticas 2004 a 2013’

O gráfico mostra picos de ocorrências em 2006, 2010 e 2011. O maior valor foi registrado em 2011, com 12 ocorrências. Nos dois últimos anos da série houve um arrefecimento das ocorrências, tendo-se chegado próximo da média do período, que foi de 6,5 excursões. Pode-se inferir desses números que, em média, ocorreu uma excursão de pista no Brasil, com aeronaves a jato ou turboélice, a cada dois meses, no período de 2004 a 2013.

Embora sendo responsável por um número menor de ocorrências que a aviação geral, a aviação regular, por utilizar aeronaves de maior porte, provoca acidentes com maior severidade. Assim, deve-se ter atenção para o que ocorreu com esse segmento, durante o período analisado.

Considerando-se o tipo de operação no segmento de aeronaves movidas a jato e turboélice, tem-se a seguinte distribuição das ocorrências de excursão de pista:

Figura 3 – Excursões de Pista. Aeronaves a jato e turboélice, por tipo de operação – 2004/2013

 

Fonte: CENIPA. Relatório ‘Saída de Pista na Aviação Civil Brasileira – estatísticas 2004 a 2013’

O gráfico da figura 3 mostra que as ocorrências de excursão de pista em operações de voos regulares, com aeronaves a jato e turboélice, representam metade de todos os eventos dessa categoria. Assim, combinando os dados dos gráficos das figuras 1 e 2, pode-se afirmar que no período de 2004 a 2013 aconteceu no Brasil, em média, uma excursão de pista em voo regular a cada quatro meses. São dados que reforçam a importância das iniciativas de prevenção desses eventos, que colocam em risco a propriedade e a vida de pessoas.

Medidas de prevenção a cargo dos operadores aeroportuários

O levantamento realizado pelo CENIPA mostrou que o perigo definido como excursão de pista esteve presente no transporte aéreo brasileiro em todos os anos da série analisada. Além disso, o estudo revelou que as operações regulares de transporte de passageiros também enfrentam esse perigo.

Mesmo considerando que a investigação do acidente de 2007 no Aeroporto de Congonhas não tenha identificado nas condições de aderência da pista um fator que tenha contribuído para a ocorrência, uma excursão de pista pode acontecer mesmo em um pouso normal com aproximação estabilizada, caso a pista esteja contaminada. Assim, deve-se manter vigilância sobre o perigo, tomando as medidas necessárias para reduzir sua ocorrência.

Aos operadores de aeródromos, recomenda-se adotar as seguintes medidas:

a)    manter atenção ao monitoramento das condições de regularidade do pavimento e aderência das pistas, monitorando a regularidade do pavimento e realizando as medições de atrito e macrotextura, conforme estabelece o RBAC 153, emenda 01, item 153.205;

b)    firmar acordo operacional com o órgão ATC para definir parâmetros de precipitação pluviométrica que obriguem a aferição das condições operacionais das pistas quando da ocorrência de chuvas;

c)    realizar medições de lâmina d’água, nas condições pluviométricas estabelecidas no acordo operacional, seguindo orientações apresentadas na aba ‘Pista contaminada por lâmina d’água’ desta página Runway Safety, de modo a emitir informações tempestivas aos aeronavegantes sobre as condições da pista;

d)    prover e dar manutenção adequada à faixa preparada das pistas e às RESA, com as características físicas estabelecidas no RBAC 154, de modo a reduzir a severidade do acidente, em caso de ocorrência de excursão de pista.

Por fim, recomenda-se a leitura do Relatório do CENIPA, para conhecimento de todas as estatísticas sobre excursão de pista no período de 2004 a 2013. O link para acesso ao Relatório encontra-se abaixo.

 

 

 

Sites úteis sobre o assunto